O estudo
sobre as origens da literatura brasileira deve ser feito levando-se em conta
duas vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista histórico orienta no
sentido de que a literatura brasileira é uma expressão de cultura gerada no
seio da literatura portuguesa. Como até bem pouco tempo eram muito pequenas as
diferenças entre a literatura dos dois países, os historiadores acabaram
enaltecendo o processo da formação literária brasileira, a partir de uma
multiplicidade de coincidências formais e temáticas.
A outra
vertente (aquela que salienta a estética como pressuposto para a análise
literária brasileira) ressalta as divergências que desde o primeiro instante se
acumularam no comportamento (como nativo e colonizado) do homem americano,
influindo na composição da obra literária. Em outras palavras, considerando que
a situação do colono tinha de resultar numa nova concepção da vida e das
relações humanas, com uma visão própria da realidade, a corrente estética
valoriza o esforço pelo desenvolvimento das formas literárias no Brasil, em
busca de uma expressão própria, tanto quanto possível original
Em resumo: estabelecer a autonomia literária é descobrir os momentos em que as formas e artifícios literários se prestam a fixar a nova visão estética da nova realidade. Assim, a literatura, ao invés de períodos cronológicos, deverá ser dividida, desde o seu nascedouro, de acordo com os estilos correspondentes às suas diversas fases, do Quinhentismo ao Modernismo, até a fase da contemporaneidade.
Em resumo: estabelecer a autonomia literária é descobrir os momentos em que as formas e artifícios literários se prestam a fixar a nova visão estética da nova realidade. Assim, a literatura, ao invés de períodos cronológicos, deverá ser dividida, desde o seu nascedouro, de acordo com os estilos correspondentes às suas diversas fases, do Quinhentismo ao Modernismo, até a fase da contemporaneidade.
Duas eras
- A
literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que
acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era
Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação
política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas escolas literárias
ou estilos de época.
A Era Colonial abrange o Quinhentismo (de 1500, ano
do descobrimento, a 1601), o Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768), o
Setecentismo (de 1768 a 1808) e o período de Transição (de 1808 a 1836). A Era
Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (de 1836 a 1881), o Realismo (de
1881 a 1893), o Simbolismo (de 1893 a 1922) e o Modernismo (de 1922 a 1945). A
partir daí, o que está em estudo é a contemporaneidade da literatura
brasileira.
O
Quinhentismo
Esta expressão é a denominação genérica de todas as
manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI,
correspondendo à introdução da cultura eu-ropéia em terras brasileiras. Não se
pode falar em uma literatura "do" Brasil, como característica do país
naquele período, mas sim em literatura "no" Brasil - uma literatura
ligada ao Brasil, mas que denota as ambições e as intenções do homem europeu.
No Quinhentismo, o que se demonstrava era o momento
histórico vivido pela Península Ibérica, que abrangia uma literatura
informativa e uma literatura dos jesuítas, como principais manifestações
literárias no século XVI. Quem produzia literatura naquele período estava com
os olhos voltados para as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira,
etc.), enquanto a literatura dos jesuítas se preocupava com o trabalho de
catequese.
Com exceção da carta de Pero Vaz de Caminha,
considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais
crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato
compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. A
literatura jesuítica, por seu lado, também caracteriza o final do Quinhentismo,
tendo esses religiosos pisado o solo brasileiro somente em 1549.
A literatura informativa, também chamada de
literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo das grandes navegações,
empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua flora, fauna, de sua
gente. É, portanto, uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande
valor literário
A principal característica dessa manifestação é a
exaltação da terra, resultante do assombro do europeu que vinha de um mundo
temperado e se defrontava com o exotismo e a exuberância de um mundo tropical.
Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece no uso exagerado de
adjetivos, quase sempre empregados no superlativo (belo é belíssimo, lindo é
lindíssimo etcO melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz de
Caminha. Sua "Carta ao Eu Rei Dom Manuel sobre o acuamento do
Brasil", além do inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível
literário. O texto da carta mostra clara-mente o duplo objetivo que, segundo
Caminha, impulsionava os portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a
conquista dos bens materiais e a dilatação da fé cristã.
Literatura jesuíta - Conseqüência da contra-reforma,
a principal preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que
determinou toda a sua produção literária, tanto na poesia quanto no teatro.
Mesmo assim, do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do
Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o
teatro de caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que
informavam aos superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.
Não se pode comentar, no entanto, a literatura dos
jesuítas sem referências ao que o padre José de Anchieta representa para o
Quinhentismo brasileiro. Chamado pelos índios de "Grande Peai"
(supremo pajé branco), Anchieta veio para o Brasil em 1553 e, no ano seguinte,
fundou um colégio no planalto paulista, a partir do qual surgiu a cidade de São
Paulo.
Ao realizar um exaustivo trabalho de catequese, José
de Anchieta deixou uma fabulosa herança literária: a primeira gramática do
tupi-guarani, insuperável cartilha para o ensino da língua dos nativos; várias poesias
no estilo do verso medieval; e diversos autos, segundo o modelo deixado pelo
poeta português Gil Vicente, que agrega à moral religiosa católica os costumes
dos indígenas, sempre com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem
e o mal, o anjo e o diabo.
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