Tropicalismo
Em 1967 (final da década de 60), iniciou-se um movimento cultural, o movimento tropicalista.O tropicalismo teve por base a tentativa de revelar as contradições próprias da realidade brasileira mostrando o moderno e o arcaico, o nacional e o estrangeiro, o urbano e o rural, o progresso e o atraso, em suma, o movimento não chegou a produzir uma síntese destes elementos, mas buscou traduzir a complexidade fragmentária da nossa cultura.
Buscando "mastigar" e "triturar" tudo, liderado por Gilberto Gil e Caetano Veloso, juntamente de outros como Torquato Neto, Gal costa, Tom Zé, o poeta José Carlos Capenam, o maestro Rogério Duprat, Nara Leão e mais, buscavam incorporar à MPB elementos da música pop, sem esquecer aqueles nomes que prestaram um importante papel no movimento evolutivo da nossa música.
Liberdade é a palavra fundamental do movimento, que revolucionou a música popular brasileira, até então dominada pela Bossa Nova.
O antropofagismo é mais um ciclo dentro do segundo movimento modernista iniciado em 1928 por um grupo de intelectuais paulistas chefiados pó Oswald de Andrade , no movimento Pau Brasil, na semana modernista de 1922.
Visava
captar "uma outra nação" de enlances profundos, de fazer uma
renovação no Brasil e procurar alcançar uma síntese de consciência nacional.
Além
disso, o tropicalismo não foi um movimento puramente musical, foi um
comportamento adotado por todos os gêneros artísticos.
No
teatro, surgiu "O rei da vela" de Oswald de Andrade, dirigido por
José Celso Martinez Corrêa, além dos famosos, "Parangolés", do
artista plástico Hélio Oiticica e "Roda Viva", de Chico Buarque,
também dirigida pó José Celso Martinez Corrêa ; no cinema, o filme como
"Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade; na televisão, o programa do
Chacrinha, misturando todas as classes sociais e culturais e, no jornal,
através dos textos de Nelson Mota, Ruy Castro e Torquato Neto.
"Essa
história de "ismos" é muito chata, reduz a coisa momentânea, e a
Tropicália é uma coisa de repercussão enorme, além do prazo.
E eu
queria dizer aqui é uma Tropicália, no sentido da música, foi uma radicalização
tão grande quanto a poesia concreta também foi no sentido da poesia. Quer
dizer, a gente mexeu exatamente com a forma da música brasileira. E eu acredito
sinceramente que isso é coisa importante em qualquer processo cultural.
Ou você
mexe com a forma ou não mexe com nada." (palavras de Torquato Neto)
Uma das
fontes inspiradoras foi a exposição tropicália que o artista plástico Hélio
Oiticica realizou em abril de 1967, tendo como objetivo principal
"contribuir fortemente para essa objetivação de uma imagem brasileira
total, para a derrubada do mito universalista da cultura brasileira, toda
calcada na Europa e na América do norte"
Criar com
a tropicália a mito da miscigenação (negros, índios, brancos).
Afirmava
que a cultura brasileira não deveria receber influências européias.
"Para
a criação de uma verdadeira cultura brasileira, característica e forte,
expressiva ao menos, essa herança maldita européia e americana terá que ser
absolvida, antropofagicamente, pela negra e índia da nossa terra, que na
verdade são as únicas significativas, pois a maioria dos produtos da arte
brasileira é híbrida, intelectualizada ao extremo, vazia de um significativo
próprio." (Hélio Oiticica)
O
deslanchar desse movimento foi no II Festival da Música Popular Brasileira,
promovido em outubro de 1967 pela TV Record de São Paulo, com a apresentação de
Domingo no parque, de Gil e Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, este que dizia
" a esquerda festiva encontrou no festival de 67 sua primeira oportunidade
de expor seus recalques e preconceitos". Era algo de novo na ordem da
música popular brasileira.
Sem muita
definição o movimento ia mesmo assim, incorporando novos dados informativos:
som universal, musica pop, musica popular moderna.
O disco
Tropicália, manifesto do movimento, vai da estética brega do tango-dramalhão
Coração Materno, de Vicente Celestino (1894-1968), à influência dos Beatle e do
rock em Panis et Circensis, cantada por Os Mutantes.
Entre
1967 e 1970, o tropicalismo traz irreverência e informabilidade, mas com uma
teoria de fundo: a possibilidade de incorporação de tudo que era e foi
considerado de mau gosto (cultura brasileira comparada com a cultura européia),
resgatando-o e transformando-o.
Gilberto
Gil e Caetano revolucionaram o cenário musical ao criar uma corrente que
misturava a canção nacional ao rock, com seus amplificadores e guitarras elétricas.
Outros traços marcantes eram as letras de forte cunho político e plumas, entre
outros materiais.
No ano de
1967, Gil e Caetano foram presos e mandados para um exílio pelo governo militar
e o movimento se enfraqueceu, logo, chegando ao fim, mas , sua sementes
continuaram germinando.
Tudo isso
ocorria em um clima de repressão política severa em 1968.
Em 1997,
quando comemorou-se 30 anos do tropicalismo, são lançados dois livros que
contam a história do movimento:
Verdade
Tropical de
Caetano Veloso e Tropicália – A história de uma Revolução Musical do
jornalista Carlos Calado
O
Tropicalismo propunha:
- Atualização da linguagem musical brasileira em relação ao que se vinha fazendo, especialmente na Europa (Beatles) e Estados Unidos (filosofia hippie)
- Crítica aos valores éticos, morais e estéticos da cultura brasileira
- Rejeição à tendência lírica da MPB através de uma linguagem mais realista e atual
- descompromisso total com os estilos, com os modismos, com as coisas feitas e esgotadas
- adoção de uma visão latino-americana inserida na realidade cotidiana.
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